O Sino da Igreja é uma obra literária com 18 contos, misto de ficção e memória do escritor Élson Gonçalves de Oliveira. Obra elogiada pelo historiador, poeta e também escritor Geraldo Coelho Vaz. Quem ainda não leu está perdendo. Aos poucos estarei publicando aqui trechos dos contos.
Tomé, o preto velho
Tomé, o preto velho
Tomé era um preto velho que morava lá na fazenda do meu avô.... Era quase um irmão de criação do meu pai. Juntos tomavam conta de toda responsabilidade da fazenda... Tomé era uma pessoa muito fechada, desconfiado e brioso... Ninguém pode saber ao certo qual o seu nome verdadeiro e completo, sua origem, por onde passou, seu estado civil, se tinha filhos, etc... Tomé era um homem sério, carrancudo, mas, no fundo, era um sujeito muito bom. Gostava de crianças e chamava-as e a todos de “sinhô” e “sinhá”. Herança do cativeiro. Ele ajudou muito meus pais a nos criar... Preferia dormir em um quartinho no paiol, longe de tudo e de todos... Uma cama de pau roliços e colchão de palha, uma rede, um banco de madeira boa e uma candeia de azeite... Lá se sentia livre para pitar o pito grosso de palha... Seu campo de relacionamento era reduzido a nossa pequena família.... Dava a entender que não possuía pais nem irmãos... Um dia ele começou a me contar que tinha a minha idade, quando viu seu pai morrer de apanhar do Sinhô de Escravo; engasgou, engoliu seco e mudou o rumo da conversa, Só eu chorei, ele não... Quase não sorria, mesmo sendo um exímio contador de estórias, notadamente estórias de carreiro... Para nós Tomé era quase um pai... No dia de sua morte – eu me lembro – todos choramos: eu, o Pedrinho, a Cida... Até meu pai derramou copiosas lágrimas. Trechos do conto: Tomé o preto velho, retirado do livro "O Sino da Igreja", do escritor Élson Gonçalves de Oliveira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário